Café, alcoolismo e drogas

Nenhuma família, homem ou mulher está livre de, pelo menos um dia, se ver envolvido com problemas devido ao consumo abusivo de álcool, de forma aguda ou crônica, por parte de alguém querido (familiar, amigo ou a própria pessoa ). Estima-se que a prevalência de abuso e de dependência ao álcool entre pacientes hospitalizados varia entre 15 a 30% nos países modernos de todo mundo. Além de problemas diretos decorrentes do consumo de álcool, como a embriaguez, doenças como hepatopatias, pancreatite, gastrite, desnutrição e traumatismos devido a acidentes de tráfego possuem o álcool como a principal causa. Pesquisas revelam que mais de 25 % das pessoas envolvidas em acidentes de tráfego apresentam uma alcoolemia acima de 200 mg/dL (níveis acima de 50 mg/dL já causam importante prejuízo na coordenação motora). Embora o alcoolismo seja a principal causa de morbidade e mortalidade no mundo moderno, muitos médicos não diagnosticam o problema e, caso o façam, o tratam de maneira inadequada. E o paciente alcoólatra é geralmente o último na lista de preferências do médico. O alcoólatra parece lutar com um esforço quase heróico para merecer esta impopularidade entre os médicos. O comportamento refratário, o relacionamento inseguro, a falta de vontade e mesmo de inteligência do paciente alcoólatra junto com a perda de objetividade após o diagnóstico ter sido feito e o pessimismo com a eficácia do tratamento faz com que médico e paciente não evoluam para uma solução definitiva do problema. O abuso no consumo de álcool e a dependência ao álcool é um problema que afeta mais de DEZOITO MILHÕES de americanos e mais de DEZ MILHÕES de brasileiros e representa o maior problema de saúde pública tanto no Brasil como nos Estados Unidos. No ano de 1990, nos Estados Unidos, foram gastos mais de CENTO E TRINTA E SEIS BILHÕES DE DÓLARES com problemas decorrentes direta e indiretamente do consumo de álcool, como acidentes, violência e perda da produtividade. No Brasil este prejuízo eqüivale a mais de 5 % do PIB, com um prejuízo superior a 15 BILHÕES DE DÓLARES ANUAIS devido ao alcoolismo. É importante reconhecer que os transtornos causados pelo consumo de álcool não são inteiramente causados por pessoas alcoólatras. Pessoas não dependentes, mas que cometem abusos após o seu consumo exagerado (consumo social em excesso), são responsáveis por cerca da metade dos problemas relacionados ao álcool, como acidentes, violência, comportamento inadequado e embriaguez no serviço. O consumo abusivo e persistente de álcool é uma importante causa de morbidade e é responsável por cerca de 200.000 mortes por ano nos Estados Unidos. E este abuso por pessoas não viciadas é responsável por 50 % das fatalidades dos acidentes de tráfego. Em quase 70 % dos casos de assassinato e mais de 30 % dos casos de suicídio existe uma relação direta com o consumo abusivo de álcool. A expectativa de vida para os alcoólatras é menor em 10 a 12 anos, em comparação com a população em geral. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define alcoolismo como o consumo de bebidas alcoólicas de forma continuada causando prejuízo emocional, social e físico ao indivíduo. O alcoolismo é um problema crescente nas sociedades modernas pela existência de uma série de fatores desencadeantes. Um indivíduo normal com ansiedade e depressão apenas controladas pelo álcool, ou um divórcio e desemprego que induzem ao abuso do álcool ou mesmo um executivo competitivo e estressado que consome regularmente álcool são candidatos potenciais para o alcoolismo e seus problemas como gastrite, cirrose, miocardiopatia ou síndrome amnéstica de Korsakoff. Estima-se que 90% da população adulta dos países civilizados beba álcool com periodicidade, sendo que aproximadamente 50% possui problemas temporários devidos ao alcoolismo e 10 a 15 % são alcoólatras crônicos. Isto porque a maioria das pessoas bebe quando se sente miserável - grandes quantidades e com periodicidade - em lugar de fazê-lo quando se sentir feliz -, pequenas quantidades e de forma esporádica. Isto influi na qualidade e na quantidade da ingestão alcoólica e na relação que se estabelece entre o álcool e o usuário. O alcoolismo social é uma forma de dependência crônica aceita e praticada pela maioria dos adultos nas sociedades modernas e o alcoolismo agudo e crônico se constituem na principal forma de toxicomania da espécie humana na atualidade. O controle do alcoolismo na atualidade é feito com medicamentos com propriedades antagonistas opióides, como o naltroxone e o nalmefene. Pois o café possui potentes antagonistas opióides, os quinídeos formados na torra do café a partir dos ácidos clorogênicos . E pouco é conhecido sobre outros efeitos sobre o organismo humano dos quinídeos, que também possuem uma ação inibidora da recaptação da adenosina, atuando também como antagonistas dos efeitos excessivos da cafeína sobre as células, um efeito citoprotetor. Por isso, os ácidos clorogênicos e os quinídeos formados na torra adequada do café podem até ser mais importantes que a cafeína na bebida e de grande ajuda na prevenção e controle da depressão e suas conseqüências como suicídio, alcoolismo/ cirrose e mesmo infarto do miocárdio, pois a depressão é um fator de risco de doença coronariana.

Alcoolismo e Drogas

O comércio ilegal de drogas é uma atividade agrícola de países pobres e existem na América Latina mais de 100.000 espécies de plantas completamente desconhecidas e pouco estudadas pela ciência médica. Em diferentes épocas e em diferentes lugares muitas plantas foram domesticadas pelo homem, o que levou a um desenvolvimento da agricultura como um processo para a obtenção de alimentos. Os cereais da atualidade são formas domesticadas de gramíneas do passado. Caso não houvesse o cultivo de cereais, o ser humano ainda viveria de forma nômade e incerta. Simultaneamente ao desenvolvimento da agricultura, o homem também começou a selecionar para seu consumo plantas psicotrópicas. Estas últimas logo cativaram e controlaram o interesse da espécie humana. A proporção da população mundial que se dedica a agricultura como forma de sobrevivência era em torno de 80 % no ano de 1800, diminuindo para cerca de 60 % no ano de 1950. Mas grandes extensões de terra permanecem ainda inexploradas ou sem cultivo, devido a uma excessiva superpopulação nos grandes centros urbanos. No início da Era Cristã a população mundial era de 250 milhões, duplicando apenas em torno de 1650, para 500 milhões. Nos próximos 200 anos houve nova duplicação, para 1 bilhão em torno de 1850. Em 1950 a população mundial era superior a 2 bilhões, em no ano 2000 será superior a 6 bilhões, significando um aumento de 384 vezes desde a descoberta da agricultura. O crescimento populacional nos países pobres permanece bastante alto, enquanto apresenta diminuição nos países ricos. No início da década de 80, para uma população mundial de 5 bilhões, a produção mundial de alimentos foi de 4,3 bilhões de toneladas. Deste total, 98% foi produzido em terra, sendo apenas 1 % oriundo do mar e rios. Derivados do reino vegetal constituem 92 % da dieta humana, pelo uso de cerca de 30 espécies diferentes de plantas para fins alimentares. Isto inclui 8 tipos de cereais, os quais são responsáveis por cerca de 52 % da necessidade de alimentos da espécie humana. Derivados de animais, que constitui 7% da dieta mundial, são provenientes indiretamente de plantas.

Alcoolismo e Drogas

Na atualidade os países do mundo são classificados em dois grupos: ricos e pobres. Nos países ricos como os Estados Unidos, Japão, Inglaterra, Canadá, França, Alemanha e Itália , a agricultura e as atividades industriais produzem uma fartura de alimentos. Estes são conhecidos como os SETE GRANDES do mundo ocidental, e neles o excesso de alimentos cria até problemas importantes como a obesidade, enquanto que nos países pobres, como o Brasil, Colômbia, Peru e Bolívia, os problemas econômicos e a pobreza são responsáveis por uma subnutrição de grande segmento de suas populações. Os países pobres possuem poucos produtos industrializados para exportar, e os produtos agrícolas legais, como trigo, soja e café, dentre outros, enfrentam barreiras e interesses nacionais no exterior. Uma balança comercial insuficiente, comparada com os paises ricos, faz com que os países pobres tenham poucas reservas para a importação de alimentos, ou mesmo para estimulo na produção de alimentos. Para agravar isto, o crescimento populacional suplanta o crescimento da produção de alimentos, o que leva ao acúmulo catastrófico de problemas de mortalidade infantil, fome e miséria em grandes partes da população sul-americana. Por razões humanitárias, a produção de alimentos deveria ser uma meta prioritária, particularmente nas áreas pobres, desde que a atividade agrícola seja realizada dentro da moderna tecnologia e com o mais alto rendimento possível, incluindo uma reforma agrária de verdade e corajosa. A história não perdoa os covardes.

A cultura de plantas ilegais como a heroína, marijuana e cocaína é basicamente uma atividade de países pobres. A heroína é proveniente dos campos de ópio do Triângulo de Ouro onde Burma, Laos e Tailândia convergem. O ópio é reduzido a uma base impura de morfina, chamada pitzu, em pequenos laboratórios da redondeza. A seguir é transportado por caravanas para laboratórios mais sofisticados, aonde o pitzu é refinado , permitindo a obtenção da morfina e da heroína, as quais são então remetidas para os grandes consumidores americanos. Durante muitos anos o comércio de drogas na América Latina foi dominado pela maconha mexicana e pela heroína. Na atualidade a cocaína substituiu a marijuana por ser mais lucrativa, sendo os mexicanos suplantados em termos de negócios e influência política pela Colômbia, Peru e Bolívia. No Brasil, poderosos grupos do narcotráfico estão se estabelecendo nas grandes capitais, criando ameaças para a sociedade, corrompendo sistemas policiais e mesmo governos, para assegurar o comércio ilegal de cocaína. Nas fronteiras com os países produtores, onde imensas áreas da Amazônia podem ser usadas para cultivo, desmatamentos são efetuados para o plantio de coca. Isto ocorre de forma importante e irreversível, pois se trata do comércio mais rentável da América Latina. Os Quadros abaixo apresentam alguns dados referentes às exportações na América Latina que ilustram a importância econômica das plantas ilícitas.

Exportações Legais

O total das exportações do Brasil, Bolívia, Colômbia e Peru juntos no ano de 1990 foi de US$ 41,984,020,000,conforme o Quadro 1 abaixo.

Quadro 1 - Exportações dos países latino-americanos

Exportações dos países Latino-americanos
País Exportações
(US$)
Café
(% total)
Destino p/ os U.S
(% total)
Brasil 33,783,000,000 7 28
Bolívia 569,793,000 2 17
Colômbia 5,026,227,000 33 40
Peru 2,605,000,000 6 21


As exportações de café variam de 33 % do total na Colômbia, para 2 % do total na Bolívia, sendo ainda uma importante fonte de renda para cada um destes países. Pode ser observado que o café boliviano foi quase que inteiramente substituído pelas exportações de cocaína. O café já foi responsável por cerca de 70 % das exportações brasileiras no início deste século, sendo lentamente substituído por outros produtos, incluindo agrícolas e manufaturados. No Brasil a agricultura é responsável por 9 % do produto interno bruto (PIB), enquanto que os manufaturados respondem por 27 % do PIB. Entretanto, o desmatamento de grandes áreas florestais, incluindo a Amazônia, onde existem mais de 5 milhões de Km 2, com mais de 30 milhões de área cultivável (várzeas), esta criando todas as condições para um desenvolvimento da atividade agrícola, incluindo condições para a mais rentável das culturas, a cocaína. Muito provavelmente, num futuro próximo, a cocaína poderá ser a principal atividade agrícola na América do Sul, incluindo o Brasil, a não ser outras culturas alternativas sejam identificadas e devidamente valorizadas, como o próprio café.

As exportações legais

A Bolívia e o Peru são os principais plantadores das folhas de coca que são posteriormente convertidas em cocaína. A Colômbia é na atualidade o principal país dedicado ao refinamento e exportação de cocaína da América do Sul. A Colômbia está se tornando também um grande produtor, juntamente com o Brasil, em suas fronteiras com os paises produtores. A maior parte da maconha consumida nos Estados Unidos é produzida no México e na Colômbia, seguindo-se o Brasil (nordeste). O México também produz quase a metade da heroína consumida nos Estados Unidos. A pobreza e a miséria existentes no Brasil criam todas as condições para que uma grande parte da população dedique-se ao plantio e comércio ilegal das drogas, particularmente considerando que o café já não é mais tão rentável como costumava ser no passado. O comércio de cocaína traz recursos anuais da ordem de 600 milhões de dólares para a Bolívia e Peru. Isto representa uma quantia maior que todas as exportações anuais da Bolívia. Na Colômbia, o comércio de cocaína gera recursos da ordem de 2 bilhões de dólares anualmente e acredita-se que no Brasil estes recursos sejam de ordem de 1 bilhão de dólares. O Quadro 2 apresenta os recursos gerados com a produção de café e de cocaína nestes países sul-americanos.

Quadro 2 - Exportações de Café e Cocaína na América Latina

Exportações de Café e Cocaína na América Latina
País Café
(US$ anuais)
Cocaína*
(US$ anuais)
Total (lucros p/ o país)
Brasil 2,100,000,000 1,500,000,000 500,000,000
Bolívia 12,000,000 2,300,000,000 600,000,000
Colômbia 1,700,000,000 5,100,000,000 2,100,000,000
Peru 156,000,000 2,500,000,000 6,000,000,000
* Estimativa


No Quadro 3 pode ser observado que o comércio de cocaína gera recursos superiores aos gerados pelas grandes empresas americanas de petróleo.

Quadro 3 - Recursos gerados pela Cocaína e pelo Petróleo

Recursos gerados pela Cocaína e pelo Petróleo
Companhia Faturamento
(US$ anuais)
Lucros
Drogas I* 10,400,000,000 3,700,000,000
Drogas II** 300,000,000,000 289,600,000,000
Exxon 86,600,000,000 3,500,000,000
Royal Dutch/Shell 85,500,000,000 6,500,000,000
Mobil 51,000,000,000 1,800,000,000
British Petroleum 49,500,000,000 3,500,000,000
Texaco 32,400,000,000 2,400,000,000
* Lucros no País
** Lucros em todo o Mundo


Analisando estas informações, impõe-se a pergunta : qual a planta mais importante e saudável para o Brasil e para a América Latina?